Nas ultimas três décadas a imagem adquiriu um status muito grande na superfície gráfica das revistas semanais de informação (Veja, IstoÉ, Época). O que queremos de fato e abordar a ampliação do espaço da imagem em detrimento do texto verbal (notícia), contextualizando a grande influência do processo de Revolução Gráfica e fazer inferências sobre o interesse que os donos desses semanários têm de favorecer o predomínio da imagem nos mesmos.
A imprensa é vital para o processo de consolidação da democracia e dos direitos humanos, para o combate aos privilégios de classes e mesmo para o desenvolvimento social. Para isso, o jornalismo, narra, interpreta, apoiado numa visão clara dos direitos humanos indispensáveis à sociedade livre e igualitária.
No cumprimento dessa função social, a imprensa desperta um juízo social ético, projetando o jornalismo como instrumento de esclarecimento e de desenvolvimento da sociedade.
Esse papel social da imprensa tem fases diferenciadas no processo histórico das revistas. Num primeiro momento os magazines primavam pelo entretenimento da família, com uma forma simples de editar temas aprazíveis, com predominância visual.
Logo após 1960, veio o modelo revista semanal de informação, distinguindo-se das foto-magazines, nas quais havia predominância visual, procuram enfrentar a concorrência imposta pela televisão com reportagens mais textuais.
Ao longo das três últimas décadas, porém, constata-se um certo desinvestimento desse modelo de revista na reportagem textual e uma crescente ênfase na sensação, principalmente visual. Nos anos 80 surgem os profissionais de vanguarda, bem contados ao estilo de criadores publicitários. As revistas e a televisão mostram sinais de uma aparente mudança com muito brilho na embalagem para conteúdos gastos, alienados e parciais.
Embora o uso da sensação seja um dado do jornalismo, um meio para despertar o interesse, ela pode estar se transformando num fim, em si mesma, em detrimento da percepção ou entendimento dos fatos narrados. A imagem fotográfica, produzida segundo critérios estéticos, gera um expediente comunicativo menos crítico, já que o consumo de imagens aciona mecanismos de emoção e sensação primordialmente.
A cultura audiovisual propicia a ascensão da afetividade sobre o raciocínio, o que conduz ao predomínio do “juízo afetivo” e do “raciocínio estético”, mesmo nas questões políticas. Essa cultura da imagem e sua decorrente prevalência no jornalismo impresso são consideradas causas do aperfeiçoamento tecnológico.
A ascendência da comunicação visual pode ser vista como reflexo da Revolução Gráfica e da ascensão da cultura da imagem, percebidas por Guy Debord e pelo historiador americano Daniel Boorstin. Inclusive para Debord, a espetacularização das imagens tecnologicamente produzida interfere na capacidade do homem de ver e interpretar criticamente o mundo, sendo esta a base da alienação da sociedade.
A revolução gráfica resultante do aperfeiçoamento técnico e do impacto da fotografia, gera um novo tipo de pensamento, o “imagético”, em detrimento do que ele qualificou pensar em termos de alguma idéia ou valor ao qual se possa aspirar. Neste contexto a revolução gráfica é uma revolução moral, porque substituía a aspiração pela gratificação.
Para Boorstin o consumidor é vítima da expectativa extravagante, que deseja o sensacional, e a indústria o produz, porque sabe da expectativa de seu público. Veja Boorstin não enxerga uma superestrutura por trás da realidade aparente construída pelas imagens, Debord sim.
Para Massimo Cavenacci a comunicação visual é parte de uma ruptura de modelos. A cultura da imagem não é apenas “vinculadora do conjunto da cultura contemporânea”, mas um fenômeno de dissolve o nexo histórico dos fenômenos culturais. Essa nova passagem cultural chamada comunicação visual, propõe que ninguém mais parece querer confiar às próprias idéias o poder de assegurar liberdade e felicidade para todos. Com o enfraquecimento das ideologias e com a dissolução das idéias em meros ideais, a imagem surge como um modelo ideológico, que se origina diretamente das “coisas” e, em particular, das mercadorias produzidas pela tecnologia ocidental, não mais das idéias.
A partir daí se tem uma sociedade que não pensa mais em termos de idéias e ideais, mas de imagens, corpos e consumo. Logo, a mídia focada no gosto e na expectativa do consumidor investe em peças visuais, corporais, no apelo sensacionalista e erótico das formas e das cores.